contador

contador gratuito de visitas

quarta-feira, 21 de março de 2012

Trágica charada



"Meu único anseio era caçar um tiranossauro rex,mas eles já foram extintos"



Na madeira fria que sentava com gosto nos dias de verão, sentei. Assim como no verão passado, e no outro antes desse. A brisa morna que soprava meus cabelos continuava em igual intensidade a acariciar meu rosto, mas a sensação de conforto já me abandonara a muito.
O ânimo me deixou ás próprias forças, ou melhor, ás próprias fraquezas. Não sei. Tudo parece tão estaticamente diferente e  agoniantemente  igual.
Um pesadelo que sonhei outrora, ou um doce devaneio que já tive a anos atrás.. Não importa. 
Tudo é sempre conhecido, previsível.
Não se trata de estar preso, liberdade não é o que me falta. Na verdade,é a liberdade que me prende,me acorrenta, me tortura.
Me faz abrir os olhos pro horizonte e ver que não tenho lugar pra ir com meu novo par de asas encantadoramente intactas e mofadas.
O céu limpo, o sol amarelo-róseo, um fim de tarde convidativo. Mas convidativo pra que? Continuar a voar,como sempre fiz? De que adianta a cor do céu,o brilho dos astros, o formato das nuvens? Voar cansa. Viver cansa.
Especialmente quando se vive meio morto. Se vive vivendo o que já viveu, de novo e de novo.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

M.R.U

Prefiro ficar estática do que ver a vida se repetir.
Prefiro parar; fechar os olhos, sentar no chão..
Implorar pra que meus ouvidos livres detectem algum sinal de novidade, de mudança; mas em vão.
Me sinto no meio de uma encruzilhada, sabendo que já escolhi todas as vias, e todas me trouxeram até ali, exatamente de onde tentei sair.
Ja corri por todas direções, já tentei traçar caminhos novos.Rotas de fuga, que por possuirem uma paisagem diferente me faziam acreditar que o lugar mudara, que eu mudara.
Quase conseguia sentir cheiro de ar fresco no ar; acreditando piamente na ilusão que eu ajudei a criar.
Ah, ilusão! Que mania a minha de ignorar meu instinto agressivamente contrário ao que pretendo..
Que mania minha a de imitar felicidade enquanto meus olhos pesam lágrimas sofridas, agoniadas por liberdade, quase tanto quanto eu.
Chega de escarrar gritos silenciosos e tentar absolver minha angústia no travesseiro.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Agora

Agora é tudo mais fácil.
É aço, é forte..
É  o que foi importante, a própria sorte.
Agora é tudo melhor.
Mais nítido, mas vil
Brusco e gentil. Sem meio termo.

Agora.
Agora tudo virou rotina fatigante..
Cervejas quentes,conversas medíocres,beijos sem sabor.
Caminhadas compridas e sem destino.
"Uma dor cura a outra",alguém me disse.
Machucar os pés no asfalto talvez amenize o que me dilacera.
Me machuco.
Me machuco de todas as formas possíveis, e passei a amar minha tortura.. Meu alívio.
Cigarros, garrafas, agonia, escória.. Me abraçam de olhos fechados, e o que posso eu fazer senão retribuir?
Ignoro o fato triste de que já não sinto prazer com mulher alguma, e nenhum êxtase com a melhor droga possível.  Nos meus porres, vejo teus olhos castanhos, destacados na pele incrivelmente branca a me espreitar.. A balançar a cabeça negativamente.. E minhas alucinações são cheias de traços teus. Pesadelos, pesadelos.. De que adianta dormir? Como posso fechar os olhos sem reconhecer esse vazio que consome mais de mim a cada dia que passa? 
Só me resta continuar.. Entregar o que resta de mim, de bandeja, pra qualquer dor..
Qualquer imitação barata de amor.

domingo, 23 de outubro de 2011

Trecho de uma verdade maior

“...ela era simplória,e o seu batom vermelho de segunda já se desmanchara em meus lábios.
Seus seios caídos,embora medianos,suavam a vomito e  perfume floral. Ela era o asco, e ao asco eu pertencia. Era apenas um porco comendo de garfo e faca.”

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Reflexões


Tenho que admitir: amorteci-me por dentro. Senti uma onda de calor aconchegante,felicidade de uma volta impossível no tempo,mesmo que por poucos minutos.Era como poder pegar de volta o livro da cabeceira da cama,que você não nunca terminou de ler,por ter decidido fugir,largado de mão..
Já não sei se sou quem fui,e nem faço idéia de quem quero ser. Tal idealização não faz mais sentido depois de ter ouvido aquela voz familiar massagear meus ouvidos,me embalando suave enquanto me transportava de volta ao meu preferido conto de fadas,já quase esquecido...
Não sei  bem o que aconteceu,mas em tão pouco tempo,algum pedaço de mim tentou se regenerar, deu um salto no vácuo, e senti um filete de sangue quente correr em minhas veias,outrora paralisadas e preguiçosas..Era como se todo o resto;as lágrimas, a dor, os pesadelos,as lembranças,todas as memórias doloridas perdidas no tempo, estivessem conspirando por aquele momento.Por uma nova escolha..
Era como se meus medos fossem um deus bondoso, voltando atrás e me dando a chance de refazer meus antigos passos tropegos.Ter coragem,abraçar meu destino,minha escolha ‘certa’.
Tal sensação não durou muito,como era de se esperar.
Não agi como o requerido,e você voltou um passo atrás.
Defendeu-se e me lembrou por que tudo era tão exitante.Era como um jogo de xadrez interminável..
Trocas de xeques em cada jogada,prevendo movimentos, atacando quando o outro abria a guarda,fazendo emboscadas,tentando adivinhar a estratégia inimiga.
Foi quando caí em mim. Realmente mudei.
Os jogos, que tanto me encatavam;agora só me aborrecem. Cansei de jogar..Nas apostas,perdia humanidade,inocência,esperança..A competição já não me apetece, e consigo agora notar que quero apenas companhia  calma e sorriso sincero,pra bebericar vinho na varanda fria,e fazer declarações sem precisar de palavras.
Ler o brilho nos olhos do outro,que não oferece resistência para esconde-lo, nem olha pra baixo para oculta-lo. Amor,sem complicações.
Só.

domingo, 19 de junho de 2011

Mais uma dose de solidão

Não estou só, só me sinto.
Consigo ver pelo canto do olho contornos humanos apressados, e vozes abafadas pelo meu pensamento distante.
Olhar fixo, em um ponto qualquer.Mente fixa, em uma memória boba..do que ja fora minha rotina.
Sorrisos nublados,como num sonho, ou num momento ébrio.
Sinto me em meio de fantasmas silenciosos,e tal presença em vez de me levar embora a solidão,a acentua,e nada fica além da angústia do vazio.
Fico como claustrofóbica,desesperada por uma janela aberta, um caminho,uma fuga.Um trem pra qualquer lugar, a qualquer hora..que me leve pra longe daquela realidade mórbida..Que me resgate da prisão sombria, da qual fui arquiteto, e você o carrasco.
 Me permiti ser humano,e a dor que isso me causa até hoje,machuca,dilacera..Como uma ferida que não cicatriza,por ser repetidamente golpeada..sangra novamente,pelo meu arrependimento..decepção.
Não me importo de ficar só.. Mas sem fantasmas.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Holograma

Você estava lá. Eu lembro.
Consigo descrever todos os detalhes.
Seu rosto..feições belas e simplórias,que em seu conjunto atendiam a tudo o que meu coração definia como perfeito.
A ilusão..o primeiro de todos os prazeres.
Seus gostos,seus costumes, seus olhos de um castanho profundo, que de tão reais,brilhavam refletindo minha alma. Me encontrei naqueles olhos puros, de quem já não ouvia falar em pureza a muito tempo.
Voltamos a inocência..sentimos de novo o calor desesperador que te faz querer dizer besteiras fora de hora, e demonstrar tudo que se sente, a cada milésimo de segundo.
A voz..lembro como se tu estivesses agora, contando segredos jamais ditos em voz alta, despejando respiração quente em meu ouvido.A tal voz que ouço cantar suave em meus sonhos preto e branco,pesadelos em que sempre acabo encurralada,sem saber de quem fugir.
Me consola,sua lembrança imutável, intacta,imaculada.. e me corrói o fato de saber que ela não passou de uma mentira fajuta..Que quis acreditar ser real,renegando todo meu instinto..minhas experiências..e o costume, de ser sempre apenas uma observadora dos sentimentos alheios,tendo em mim apenas um vazio infindo.
Não sei se bebo pra suprir tua falta, ou pra esquecer do tempo que te tive.. Talvez até pra assumir pra mim mesma,que amei um ator.
Acho que bebo pra me permitir pensar em quais lágrimas foram reais…quais sorrisos foram espontâneos..Quais palavras não foram ditas em vão.
De que importa..! A realidade de um ser místico, é a que espero!
Justo eu, que me vanglorio de meu ceticismo,escarneço os deuses,e rio do que chamam de milagres..justo eu!
Esperando pelo que nunca existiu.. 
Como uma cristã,devota, que reza em vão para um deus que supostamente o dará outra vida,muito melhor que a terrena. Tal fiel abandona suas chances de ser feliz..por sua idéia de perfeição.
É exigir demais, eu sei.
Querer aquilo que ninguém tem,viu, ou descreveu..
Mas é o meu amor, a ilusão.
É o rosto holográfico, que sustenta minha alma e impede que o resto de esperança,pereça.