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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Últimos lamentos

Meus pés descalços congelam-se no chão sujo,enlameado e áspero,pelas folhas em pedaços que restaram do outono.Outro inverno sem anjos de gelo,sem bonecos de neve, sem amigos bebendo chocolate quente em volta da lareira.
As lembranças da primavera ficaram nas fotos que rasguei,enquanto pensava nas mentiras,nas omissões,nas máscaras.O que me trás a nostalgia é apenas um vinil da Joplin que você deixou no armário,na gaveta onde ficavam minhas bijuterias antigas.As vezes penso se foi seu jeito de ficar pra sempre comigo,ou se for por maldade,por saber que eu choraria quando ouvisse o canto rouco,embalado por promessas mal feitas e por perguntas sem respostas convincentes.
Chego em casa e tudo está com ritmo de ópio.Seus livros de psicanálise ainda estão na estante,cobertos por teia de aranha.Faço tudo para que continuem como você deixou, a diferença são os fios de entrelaçados,e a poeira contida nas capas.Tenho certeza de que, se os abrir,ainda terão o seu cheiro de chá de canela com a fumaça do seu cigarro predileto,abafados pelo odor de mofo.
Sinto de novo desapontamento para comigo mesma,por não ter te expulsado das minhas memórias,e nem do meu presente.Eu sou a culpada que não te deixa ir embora,que te deixou preso nas viagens,nas risadas, no vinho tinto ao som de rock'n roll e blues.
E eu sei que essa angústia não passará de uma hora para a outra,pois a cada dia que passa, me apego á solidão,a única amiga leal,que nunca me deixará.Eu tenho a mim..Sempre terei.E tento em vão enterrar viva tuas memórias.Me desespera. E esse desespero me faz questionar cada vez mais porquês e tomar cada vez mais anfetaminas.
Pela janela vejo o chão cinza lá fora, e eu percebo que o chão relvado, e as margaridas banhadas de orvalho nas manhãs de primavera,talvez,não voltem a ser vistas por mim.

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